terça-feira, 21 de junho de 2011

Por Que Sou Agnóstico? — Parte IV

Robert_Green_Ingersoll

     Todo o tempo estava alheio a quaisquer ciências, desconhecia totalmente o outro lado — não sabia nada sobre todas as objeções levantadas contra as Sagradas Escrituras ou contra o perfeito credo Congregacional. Obviamente, tinha ouvido os ministros falarem sobre blasfemadores, infiéis infames e zombeteiros que riam das coisas sacras. Eles não refutaram seus argumentos, mas despedaçaram seu caráter e demonstraram através da fúria assertiva, que estavam a serviço do Diabo. Mesmo assim, apesar de tudo que ouvi, apesar de tudo que li, não conseguia acreditar. Meu coração e minha mente diziam Não.

     Por algum tempo abandonei os sonhos, as insanidades, as ilusões, as desilusões e os pesadelos da teologia. Estudei um pouco de astronomia; examinei os mapas dos céus; aprendi os nomes de algumas das constelações, de algumas estrelas; pesquisei algo sobre seus volumes e velocidades com que giravam em suas órbitas; obtive uma modesta noção dos espaços astronômicos; descobri que algumas das estrelas conhecidas estavam tão distantes nas profundezas do espaço, que sua luz, viajando a trezentos mil quilômetros por segundo, levava vários anos para atingir este pequeno planeta; descobri que, quando comparada às grandes estrelas, nossa Terra reduzia-se a um simples grão de areia, um átomo; descobri que a velha crença de que o exército dos céus [estrelas] havia sido criado em benefício do homem, era infinitamente absurda.

     Comparei o que realmente se conhecia sobre as estrelas com a narração conforme o Gênesis. Descobri que o autor do livro inspirado não tinha qualquer conhecimento de astronomia — que era tão ignorante quanto um selvagem. Alguém imagina que o autor do Gênesis realmente sabia algo sobre o Sol, sobre seu tamanho? Que estava familiarizado com Sirius, a estrela do Norte? Que conhecia algo sobre as constelações tão distantes que sua luz levou dois milhões de anos para chegar aos nossos olhos?

     Se tivesse consciência desses fatos, teria dito que Jeová trabalhou por quase seis dias para fazer este mundo, mas apenas levou parte da tarde do quarto dia para fazer o Sol e Lua e todas as estrelas?

     Todavia, milhões de pessoas insistem que o escritor do Gênesis estava inspirado pelo Criador.

     Agora, os homens inteligentes que não estão amedrontados, cujos cérebros não foram paralisados pelo medo, sabem que a sagrada história da criação foi escrita por um selvagem ignorante. Sabem que a história é incompatível com os fatos conhecidos e que todas as estrelas que reluzem nos céus atestam que seu autor era um bárbaro isento de qualquer inspiração.

     Admito que o desconhecido autor do Gênesis foi sincero, que escreveu o que acreditava ser a verdade, que fez o melhor que pôde. Ele não alegou estar inspirado, não fingiu que a história lhe havia sido contada por Jeová, mas simplesmente expôs os “fatos” assim como os compreendia.

     Após aprender um pouco sobre as estrelas, conclui que este escritor — este escriba “inspirado” — havia sido iludido por mitos e lendas, e que não sabia mais sobre a criação que o teólogo médio de meu tempo. Em outras palavras, não sabia absolutamente coisa alguma.

     Permitam-me, aqui, dizer aos ministros que estão me contestando para virarem suas armas noutra direção. Esses reverendos deveriam atacar os astrônomos. Deveriam anatematizar e envilecer Kepler, Copérnico, Newton, Herschel e Laplace, pois estes homens foram os verdadeiros destruidores da história sagrada. Então, após terem-se livrado deles, podem mover guerra contra as estrelas e contra o próprio Jeová, por ter fornecido evidências contra a veracidade de seu livro.

     Depois, estudei um pouco de geologia. Apenas o suficiente para conhecer algo sobre as principais descobertas e as conclusões a que se havia chegado. Aprendi algo sobre a ação do fogo e da água; sobre a formação das ilhas e dos continentes; sobre as rochas sedimentares e ígneas; sobre as medidas de carvão; sobre escarpas calcárias; algo sobre recifes de coral; sobre os depósitos criados por rios, sobre o efeito dos vulcões, das geleiras e de todo o mar circundante — apenas o suficiente para concluir que as rochas laurencianas¹ eram milhões de anos mais antigas que a grama sob meus pés; apenas o suficiente para sentir-me seguro de que este planeta tem feito sua rota ao redor do Sol, alternando entre dia e noite, por centenas de milhões de anos; apenas o suficiente para saber que o autor “inspirado” não sabia coisa alguma sobre a história da Terra; que não entendia qualquer coisa sobre as grandes forças da natureza — sobre o vento, as ondas e o fogo —, sobre as forças que vêm destruindo e construindo, que vêm arruinando e criando através de incontáveis anos.

     E me permitam mais uma vez dizer aos ministros, que, não devem desperdiçar seu tempo me contestando. Devem contestar os geólogos. Devem negar os fatos descobertos. Devem arremessar suas maldições contra os oceanos blasfemos e investir suas cabeças contra as rochas infiéis.

     Então estudei um pouco de biologia. Apenas o suficiente para saber alguma coisa sobre as formas animais; apenas o suficiente para saber que a vida já existia quando as rochas laurencianas formaram-se; apenas o suficiente para saber que implementos de pedra — implementos forjados por mãos humanas — haviam sido encontrados misturados a ossos de animais atualmente instintos, ossos que haviam sido partidos por estes instrumentos, e que estes animais já haviam deixado de existir centenas de milhares de anos antes de Adão e Eva terem sido manufaturados.

     Então tive certeza de que o registro “inspirado” era falso, que milhões de pessoas haviam sido enganadas e que tudo que me ensinaram sobre a origem do mundo e dos homens, era uma inverdade. Percebi que o Velho Testamento era obra de homens ignorantes; que era uma mescla de verdades e falsidades, sabedoria e tolice, crueldade e bondade, filosofia e absurdidade; que continha alguns pensamentos elevados, alguma poesia, uma boa quantidade de solenidade e trivialidade, algumas orações histéricas, algumas ternas e algumas pervertidas, algumas previsões malucas, algumas delusões e alguns sonhos caóticos.

     É evidente que os teólogos combateram os fatos descobertos pelos geólogos, pelos cientistas, buscando sustentar a veracidade das Sagradas Escrituras. Pegaram equivocadamente os ossos de um mastodonte, pensando serem humanos, e com eles orgulhosamente provaram que “naquele tempo havia gigantes sobre a terra”.² Justificaram a existência dos fósseis dizendo que Deus havia os criado para testar nossa fé ou que o Demônio havia imitado a obra do Criador.

     Contestaram os geólogos dizendo que os “dias” no Gênesis eram longos períodos de tempo e que, afinal, o dilúvio talvez poderia ter sido um fenômeno local. Disseram aos astrônomos que o Sol e Lua foram apenas aparentemente parados, não literalmente; que a aparência foi produzida pela reflexão e refração da luz.

     Justificaram a escravidão, a poligamia, os roubos e os assassinatos sancionados no Velho Testamento dizendo que o povo estava tão degradado, que Jeová foi forçado a amoldar-se à sua ignorância e aos seus preconceitos.

     O clero tentou de todo modo eludir os fatos, evitar a verdade, para preservar a crença.

     A principio, simplesmente negaram os fatos; em seguida os banalizaram; depois os harmonizaram; e finalmente negaram tê-los negado. Então mudaram o significado do livro “inspirado” a fim de torná-lo compatível aos fatos. Primeiro disseram que se os fatos, conforme alegados, eram verdadeiros, então a Bíblia era falsa e o próprio cristianismo uma superstição. Posteriormente disseram que os fatos, conforme alegados, eram verdadeiros, e que estabeleciam acima de quaisquer dúvidas a inspiração da Bíblia e a origem divina da religião ortodoxa.

     Tudo que não puderam driblar, engoliram. Tudo que não puderam engolir, driblaram.

     Desisti do Velho Testamento devido aos seus erros, seus absurdos, sua ignorância e sua crueldade. Desisti no Novo Testamento porque asseverava a veracidade do Velho; desisti dele por causa de seus milagres, de suas contradições; desisti porque Cristo e seus discípulos acreditavam na existência de demônios — os expulsavam das pessoas e animais, conversavam e faziam acordos com eles.

     Somente isso basta. Sabemos, se é que sabemos alguma coisa, que demônios não existem, que Cristo nunca os expulsou e que, se fingiu tê-lo feito, era ignorante, desonesto ou maluco.

     Essas histórias sobre demônios demonstram a origem humana e ignorante do Novo Testamento. Desisti do Novo Testamento porque recompensa a credulidade e amaldiçoa os homens corajosos e honestos, porque ensina o horror infinito da dor eterna.

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Por Que Sou Agnóstico? — Parte V

Por Que Sou Agnóstico? — Parte III

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